O casal Eduardo Beauté e Luís Borges, que recebeu a guarda de um menino numa decisão jurídica inédita em Portugal, não pretende que o seu caso sirva de bandeira para qualquer luta, afirmando que são apenas dois seres humanos com amor para dar a um criança.
O Tribunal de Família e Menores do Barreiro entregou a guarda definitiva do menino com síndrome de Down ao casal, que tinha acolhido a criança há mais de um ano. A decisão é inédita, mas Eduardo Beauté disse, neste domingo, à Lusa que não quer que sirva de estandarte ou bandeira para o que quer que seja. “Não é de todo do meu interesse e muito menos fazer figura de qualquer associação”, disse o cabeleireiro, adiantando que em causa está a proteção do menino. “Vai ser uma criança que vai viver em sociedade com outras crianças e não quero que seja conotado como um símbolo do que quer que seja”, sustentou.
Eduardo Beauté não pretende que o seu caso seja dado com um exemplo: “Eu não posso achar que seja um exemplo porque sou um ser humano como outro qualquer. Eu e o Luís vamos tentar dar o melhor na educação do Bernardo”. Neste caso, frisou, “não se impõe a situação de ser um casal homossexual, mas apenas de dois seres humanos que têm amor para dar a uma criança que necessita desse amor”.
“Há muitos casais heterossexuais que adotam e algum tempo depois vão devolver as crianças. Isso existe muito, infelizmente”, observou, contando que tomou conhecimento destas situações quando tratava do processo de Bernardo. “É um número muito elevado porque [estas pessoas] não reúnem as condições que idealizavam para um filho ou porque [as crianças] fazem birras. Acho isso tão cruel que não me passaria pela cabeça”, lamentou.
Mas Eduardo Beauté alerta: “Não se podem criar estereótipos de que os gays são diferentes porque são gays ou os heterossexuais são diferentes porque são heterossexuais. Não, acima de tudo são seres humanos. Eu e o Luís somos dois seres humanos, independentemente da nossa orientação sexual, capazes de dar amor a uma ou mais crianças porque o nosso objetivo é também ter uma menina”, revelou.
Por outro lado, também não vê a sentença judicial como uma vitória: “É uma conquista como de qualquer outro casal que idealizou ter uma criança para criar e conquistou esse sonho”. O único desejo do casal é que Bernardo seja “uma criança como outra qualquer, que viva em paz, numa família com harmonia e que, acima de tudo, seja feliz”.
Eduardo Beauté nunca esperou que o caso tomasse as proporções que tomou, mas atribuiu essa situação ao facto de serem figuras públicas. “Naturalmente haverá outros casos que não são conhecidos», afirmou, contando que foi abordado há dias por um casal homossexual que tem uma criança a cargo e não sabe como pode regularizar a situação. Para Beauté, o maior mérito desta decisão deve-se ao magistrado que decidiu entregar a guarda da criança: “É um juiz que tivemos a sorte de encontrar, ele é que foi a sentença de Deus”.
Fonte: TVi24
Crédito da foto: Lux