Patricia Almeida, que atua na coordenação do Movimento Down, publicou uma coluna no jornal “O Dia”, do Rio de Janeiro. No texto, ela explica como é importante que as pessoas públicas assumam entes queridos com deficiência diante da sociedade. Leia o texto completo a seguir:
O casamento entre pessoas do mesmo sexo foi reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal e vem sendo assumido publicamente por famosos. Cada vez mais cidadãos em todo o país saem da ‘clandestinidade’ e reconhecem sua orientação sexual diante da família, colegas de trabalho e amigos, cientes de seus direitos e respaldados pela opinião pública.
Já as pessoas com deficiência têm muita dificuldade de sair do gueto e, com isso, permanecem invisíveis aos olhos da sociedade. Um relatório do Unicef divulgado esta semana sobre crianças com deficiência traz dados assustadores. Crianças com deficiência intelectual têm 4,6 vezes mais chance de serem vítimas de violência sexual do que seus pares sem deficiência.
A mídia brasileira tem-se revelado uma aliada poderosa. Novelas retratam personagens com deficiência como o cego Jatobá, de ‘América’, a Clarinha de ‘Páginas da Vida’, que tinha síndrome de Down, Luciana, a modelo cadeirante e mãe de gêmeos em ‘Viver a Vida’, e, agora, Linda, de ‘Amor à Vida’, com autismo. É a arte imitando a vida de verdade e prestando um serviço à sociedade.
A inclusão começa dentro de casa. Temos visto figuras públicas assumirem seus filhos com deficiência. O mais notório é Romário, que, numa partida de futebol, mostrou ao mundo que tinha uma filha com Down, a Ivy. O craque assumiu responsabilidade ainda maior — elegeu-se deputado para se dedicar à causa.
Nem todo mundo abraça essa luta como fez Romário. Entende-se que algumas personalidades queiram preservar suas vidas privadas dos olhos insaciáveis das revistas de fofoca e paparazzi de plantão. Mas, felizmente, alguns estão vendo que a melhor maneira de proteger suas famílias é, justamente, falar de seus filhos e encarar o assunto de frente.
A filha de Roberto Justus e Ticiane Pinheiro, por exemplo, foi alvo de especulações e perfis maldosos nas redes sociais. Até que os pais explicaram que Rafaella tinha uma estenose crânio-facial. Os boatos cessaram e a vida seguiu seu rumo. Jô Soares foi outro que recentemente contou, no programa ‘Roda Viva’, que o filho Rafael, já adulto, tem autismo. A transparência é muito mais saudável e humana que a invisibilidade.
Gostaríamos de ver mais figuras públicas assumindo seus entes queridos como parte de suas famílias, reafirmando que pessoas com deficiência não são mais nem menos que ninguém. Aproveitando a atenção que as cerca, contribuiriam para a inclusão de seus próprios filhos e de muitos outros.
Patricia Almeida é coordenadora de conteúdo do Movimento Down
Fonte: Jornal O Dia