Síndrome de Down e artes marciais: força, determinação e disciplina

Breno Viola durante competição. Crédito da foto: Divulgação
Breno Viola durante competição.
Crédito da foto: Divulgação

Força, determinação e disciplina. A prática de artes marciais pode ser uma valiosa aliada na reabilitação física e cognitiva das pessoas com síndrome de Down. A atividade oferece não só as vantagens de um exercício físico, mas também a filosofia de cada modalidade, o incentivo à disciplina e ao equilíbrio emocional, o controle da força e o respeito a si próprio e ao outro. Em todo o mundo, pessoas com a síndrome praticam e até competem em campeonatos de diversas modalidades.

É o caso de Breno Viola, judoca e autodefensor e do Movimento Down. Breno, de 33 anos, pratica judô desde os três anos de idade. Hoje, é o único atleta com síndrome de Down das Américas a ter alcançado a faixa preta neste tipo de luta. O judoca faz parte da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e treina cinco vezes por semana no Flamengo, no Rio de Janeiro. “É bom fazer esporte. Além de ser saudável, o esporte ensina a ter disciplina, a não reagir na hora de um assalto, por exemplo,” conta Breno, que já conquistou medalhas em competições internacionais.

No entanto, antes de incentivar os filhos a praticarem qualquer tipo de esporte, os pais devem estar atentos. Realizar uma avaliação clínica é imprescindível, principalmente para as pessoas com deficiência. Além disso, é importante saber se os profissionais de educação física estão preparados para questões associadas à síndrome como a instabilidade atlanto-axial e a hipotonia.

“Na CBJ, os professores recebem a orientação de se informar sobre as características de cada aluno, principalmente os que têm algum tipo de deficiência. É importante que o professor, principalmente aquele que nunca trabalhou esse tipo de aluno, se informe sobre as peculiaridades que cada condição traz. No caso das crianças com síndrome de Down, o exame clínico para detectar a instabilidade atlanto-axial é imprescindível”, explica Amadeu Dias de Moura Jr, supervisor de alto rendimento da CBJ.

Artes marciais pela inclusão

No Brasil, existem associações e clubes que oferecem aulas de artes marciais para pessoas com deficiência, inclusive a síndrome de Down. É assim no Instituto Olga Kos, em São Paulo. A organização realiza oficinas gratuitas de karatê e taekwondo para crianças, jovens e adultos com a síndrome e outras deficiências intelectuais. Atualmente, são oferecidos módulos de diversos níveis, com cerca de 15 alunos por turma. Outra iniciativa que oferece aulas de judô para pessoas com deficiência intelectual é a Oficina do Aluno.

Instituto Olga Kos: oficinas de artes marciais para pessoas com deficiência. Crédito da foto: Olga Kos/Reprodução
Instituto Olga Kos: oficinas de artes marciais para pessoas com deficiência.
Crédito da foto: Olga Kos/Reprodução

 

Pedro Neves, professor da Oficina do Aluno, conta que o núcleo atende oito pessoas com síndrome de Down, duas com deficiência intelectual e outras duas com síndromes desconhecidas. A experiência tem sido tão positiva que motivou a instituição a dar um passo além na luta pela inclusão. “Pedimos ajuda, passamos por várias consultorias, fomos atrás de formação adequada e hoje temos 10 alunos alfabetizados, duas com possibilidades de empregabilidade. Nosso objetivo é mostrar as potencialidades desses jovens, prepará-los, cada um no seu momento, para o mercado de trabalho e dar-lhes um papel social e profissional”, relata Pedro.

Turma do projeto de inclusão da Oficinadoaluno. Crédito da foto: Divulgação
Turma do projeto de inclusão da Oficina do aluno.
Crédito da foto: Divulgação

 

As duas iniciativas defendem que as artes marciais estimulam e desenvolvem a parte física, a autoestima e o convívio social entre os atletas. No caso da síndrome de Down, ainda existe outro benefício. “A prática de artes marciais auxilia no fortalecimento do tônus muscular, o que é fundamental por conta da hipotonia das pessoas com síndrome de Down”, ressalta Michele Furukawa, do Instituto Olga Kos.

Esta reportagem faz parte de uma série do Movimento Down sobre os benefícios da prática esportiva para pessoas com síndrome de Down. Na última semana, publicamos uma matéria sobre as vantagens do surfe, veja aqui.