Diferentemente da maioria dos pais, creio eu, sempre sonhei em ter uma filha. Vontade essa que só aumentou ao casar com uma bailarina super feminina e vaidosa, minha amada esposa Andreia Anastácio. Após longos quatro anos de tentativas e alarmes falsos, veio a grande noticia, a tão esperada gravidez aconteceu. Fiquei num estado de total euforia e satisfação. Os melhores nove meses que eu já tinha vivido. E quando o ultrassom revelou que era uma menina, nossa, não podia ser mais perfeito.
A grande palavra: PERFEITO
Acho que é a palavra mais mentalizada por quem espera sua continuidade neste planeta, o chamado ‘legado’. Gravidez perfeita, vitaminas em dia, quartinho, enxoval, a obstetra preferida, parto com dia e hora marcados… Tudo planejado nos mínimos detalhes, ou quase tudo.
Nasce a pequena Allana, a minha Allana. Que sensação maravilhosa é ser pai. Eis que chega a noticia por uma das medicas da equipe: sua filha tem fortes características de ter nascido com a síndrome de Down. Ali meu mundo caiu e ao ver a pequena não tive duvidas de que ela era Down. E agora? Como dar a notícia aos familiares?
Ao sair da sala de parto em direção à sala de espera, fiquei uma eternidade atrás da porta de acesso pensando ‘todos esperam a famosa frase: ela nasceu e é perfeita’. Respirei fundo, criei coragem e fui. Passei pela porta, que naquele momento era uma barreira dura e pesada para o meu orgulho, e pronto, apresentei minha Allana ao mundo.
Agora é enfrentar o mundo e as dificuldades. Mas espere, do que eu tenho medo? Lembrei como há alguns anos dei aulas de dança para crianças e adultos com deficiência, inclusive com síndrome de Down. Sabe aquele aluno na escola que não suportava injustiça com os outros alunos perseguidos? Este era eu. Sim, eu estou preparado para apresentar este mundo pra minha filha. Sou capaz.
No texto parece rápido e fácil, mas acreditem não é. Graças à Deus tive uma excelente educação moral e afetiva, que com certeza me ajudou e muito a absorver minha nova realidade. Mas tudo isso demora um tempo. Acredito que o tempo é maior para uns do que para outros.
Aí começou a saga do Google. Pesquisas sobe o assunto, possíveis tratamentos ortodoxos ou alternativos e até experimentais. Eu sugiro isto a todos os pais de filhos com deficiência, mas sempre com cuidado e consciência. Tudo que for para melhorar a qualidade de vida e o desenvolvimento é valido. Você não queria o melhor para seu filho antes da saber da síndrome? Não tem motivo para desistir disso.
Como pai, optei por acompanhar na totalidade o desenvolvimento da Allana, pra mim não há diferença entre pai e mãe. Eu e minha esposa Andreia, sempre trabalhamos a quatro mãos. Acompanho fonoaudiologia, terapia ocupacional, fisioterapia. Vou ao pediatra, ao gastro, ao neuro. Faço intercambio com outros pais. Enfim, tudo que for necessário e recomendo a todos os pais que também o façam se tiverem possibilidade.
Hoje sei que tenho uma filha sem futuro certo, mas com certeza todas as possibilidades em aberto, assim como qualquer outra criança. Cabe a mim apenas dar a ela as ferramentas necessárias para que ela esteja preparada para traçar sua historia de vida, com direito a todos os erros e acertos.
Hoje, apenas 10 meses apos seu nascimento, chego a esquecer que a Allana tem síndrome de Down e todas as minhas expectativas em relação ao seu futuro já são as mesmas de antes.
Lembram-se lá no começo do texto, quando mencionei que a gravidez foram os nove melhores meses que eu já tinha vivido? Realmente “tinha”, no passado, pois agora consciente do presente que Deus me deu, tenho certeza que dias ainda melhores virão. E quando me perguntam como é ser pai da Allana eu respondo: É uma Honra!
Allan Ricardo dos Santos, pai da pequena Allana, que tem 10 meses e nasceu com síndrome de Down