Pessoas com síndrome de Down na mídia no fim do ano

Menina com síndrome de Down segura cartaz - Desejar é bem mais legal que brincar de boneca. E olha que eu adoro boneca. Bom2014 pra todos.Por Patricia Almeida

Neste fim de ano tivemos a grata surpresa de ver pessoas com síndrome de Down retratadas em várias situações na mídia. Algumas foram mais construtivas do que outras, mas são um grande avanço em relação a um tempo em que modelos com deficiência passavam longe da publicidade, das novelas e das matérias televisivas.

Um bom exemplo foi a mensagem de fim de ano do Banco do Brasil. O Banco já havia sido pioneiro na publicidade inclusiva em 2008 com o comercial Desejar, em que um menino com síndrome de Down aparece numa cena familiar.

http://www.inclusive.org.br/?p=2864

Este ano, dentro da Campanha Bom 2014 pra Todos  – Pequenos Grandes Desejos, filhos de funcionários do banco participam, desejando coisas legais para o ano que vem. Uma das crianças é uma menina com síndrome de Down.

http://bom2014pratodos.com.br/

Em telefornais, uma reportagem da TV Santos, da Rede Globo, feita pela jornalista Marcela Pierotti, que foi ao ar na véspera de Natal, mostrou um jovem que coleciona diversos tipos de papai Noeis. A repórter foi à casa da família e conversou com o colecionador, Pedro Monteiro, de 20 anos, com sua mãe e seu pai. A primeira coisa que salta aos olhos é que em momento nenhum é dito que Pedro tem síndrome de Down.

Uma pessoa pode até pensar, claro, isso não tem nada a ver com o assunto da matéria. Mas podem ter certeza que em 99% dos casos os jornalistas não consegueriam resistir à tentação de citar um atributo como este numa matéria. É raro também não sucumbirem o clichê da musiquinha triste e melosa quando o personagem da matéria tem deficiência. Ponto para a TV Santos, que tratou o assunto com musica adequada e de forma respeitosa e altiva, sem infantilizar o entrevistado.

É preciso notar que eu me refiro à matéria que foi ao ar no telejornal – a “cabeça” lida pelo apresentador e o Video Tape da matéria (e não ao texto escrito que foi postado no site do G1, esse sim revela que o rapaz em questão tem síndrome de Down).

http://g1.globo.com/sp/santos-regiao/noticia/2013/12/apaixonado-por-enfeites-jovem-coleciona-bonecos-de-papai-noel.html

Finalmente, um comercial da Friboi foi exibido em horário nobre na época do Natal. Nele, apareceram jovens com síndrome de Down que participam do projeto Chefs Especiais, de São Paulo, que a Friboi começou a patrocinar.

Apesar do comercial ter produção caprichada, usar a terminologia correta e ser no geral positivo, há algumas coisas nele que me incomodaram. A primeira é a música. Temas melosos me desagradam profundamente pois reforçam o esteriótipo de que pessoas com deficiência são anjos de outro mundo, e não seres humanos como outros quaisquer. Na mesma linha, o uso da câmera lenta e imagem difusa também contribuíram para esse ar etéreo. Mas o que mais me desagradou no filme foi a cena final do brinde – no lugar de vinho ou champagne, suco de laranja. Quem brinda com suco de laranja? Se os personagens não fossem jovens e adultos com síndrome de Down, estariam brindando com suco de laranja? Um pequeno detalhe que para muitos pode passar despercebido, para mim saltou aos olhos, pois vi nele a infantilização sistemática de que são alvo as pessoas com deficiência intelectual. Estamos preparando jovens para a vida independente e o mercado de trabalho, mas ao mesmo tempo tratando-os como eternas crianças que não podem consumir álcool. Veja a propaganda:

http://www.youtube.com/watch?v=2qNonN-gAjo

No link abaixo é possível ver o Making Off do filme da Friboi e saber mais sobre o projeto Chefs Especiais.

http://chefsespeciais.blogspot.com.br/

Que ótimo que vemos cada vez mais comerciais e matérias  jornalísticas com pessoas com síndrome de Down e outras deficiências.

Mas fica o recado para a Friboi e demais anunciantes, assim como jornalistas e publicitários: Que tal aproveitar estas oportunidades para desconstruir preconceitos? Na dúvida, vale a máxima – se não tivesse deficiência, como seria? Essa é a melhor forma de acertar a mão na inclusão.

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http://www.inclusive.org.br/?cat=218

Fonte – http://www.inclusive.org.br/?p=25989