Soube em 25 de Setembro de 2012, pela aminocentese, que teria uma bebê com Síndrome de Down. Estava no quinto mês de gestação e desde então passei por momentos difíceis. A aceitação da síndrome foi rápida, porém sabia que a mesma poderia ser contemplada por uma série de problemas de saúde como cardiopatias, surdez, alterações ósseas, alterações visuais, dificuldade amamentar, entre outras. Meu coração apertou e todos os dias me deparava com a angústia do inesperado, do vazio e da dúvida. Quatro meses de espera intermináveis. Fortaleci-me, mas tive muito medo. Medo do desconhecido, medo de não ser capaz.
Quatro de Fevereiro de 2013. Trinta e oito semanas de gestação. Me interno para o parto da pequena e tão sonhada Lorena. Saí de casa em lágrimas. Cheguei à maternidade e observava todas aquelas gestantes tranquilas e eu em pânico por dentro. Não sabia o que estava por vir. Continuavam os segundos de angústia. O tempo andou mais devagar para mim naquele dia.
Nove horas e dois minutos: chora pela primeira vez minha filha tão querida. A pediatra trouxe e a colocou colada em meu rosto. Perguntei ao meu marido: “ela nasceu bem?” e ele respondeu: “ela é linda”.
Já se foram 365 dias. Passou rápido para muitos, mas para mim cada dia deste ano valeu mais que minha vida toda. Quanto aprendizado, informação, contatos, novos amigos, angústias, projetos, resoluções, decisões e o melhor: quantas alegrias. Lembro-me de ter comentado a um sábio amigo que eu estava estudando tanto sobre a Lorena que parecia estar fazendo outra faculdade de Medicina. Ele docemente me respondeu: agora é a “Faculdade da Vida”.
Vida. Vida esta que me deu uma filha com uma deficiência, o que para muitos é encarado com um castigo, para outros, motivo de piedade e para minha família motivo de orgulho. Orgulho pela alegria que a Lorena transmite diariamente, do seu sorriso amável e sincero. Orgulho de suas superações. Orgulho de, na sua mera simplicidade de ser e existir, gerar elogios infinitos.
Sessões de fisioterapia, fonoaudiologia, reunião com coordenador escola, médicos especializados, milhares de exames. Algumas vezes pensei que não iria aguentar a agenda de compromissos desta pequena, que mais parece uma executiva de grande empresa. Mas, com o tempo, estes compromissos foram fazendo parte da rotina da casa e quando me dei conta o que parecia desesperador, desapareceu. Não vou dizer que é fácil, sei que temos muitos obstáculos a serem ultrapassados. Porém, adotei uma regra: pensarei na problemática quando ela aparecer. Anteceder uma situação e a solução da mesma não funciona com qualquer filho, seja deficiente ou não. As respostas virão na hora certa, mesmo que haja necessidade de dar aquele “empurrãozinho” para facilitar um pouco.
Mãe guerreira? Não me acho, pois todas as mães são guerreiras em tempo integral. Mãe especial? De forma alguma. Sou mãe da Lorena. Simplesmente mãe.
Nunca pretendi ter um segundo filho, a Lorena veio. Veio quando tinha que vir. Veio como tinha que ser: com síndrome de Down. Um ano se passou. Hoje vejo o mundo com outros olhos, valorizo outras coisas as quais antes nem eram tão importantes. Aprendi a respeitar ainda mais o ser humano. Mostro aos outros que a pessoa que tem uma deficiência antes de tudo tem um nome, uma história, almeja um futuro, sonha. O que já foi para mim razão de muitas preocupações, hoje é meu tudo, meu todo. Minhas filhas são o principal motivo de eu ser uma pessoa melhor. É uma honra fazer parte desta família. Lágrimas? Somente de alegria. Tristeza nunca mais.
Não posso deixar de dar meus parabéns para a pequena Lorena por esse aninho de vida: Filha linda, que venham muitos outros anos recheados de conquistas. Obrigada por tudo, sempre. Te amo até a eternidade. Beijos carinhosos da mamãe.
Por Ivelise Giarolla