Por Ivelise Giarolla, mãe de duas meninas e colunista da Pais e Filhos
Quando soube do diagnóstico da Síndrome de Down da pequena Lorena, uma questão que me preocupava muito era o tempo que eu teria para me dedicar a ela. Conquistamos com o decorrer dos anos muitas coisas e com essa bagagem veio o direito da mulher trabalhar de igual para igual com o homem da casa, antigamente o único provedor da renda familiar. Porém, o direito de trabalhar não isentou a mulher de cuidar da casa e da família, ou seja, trabalho agregado. Para quem não me conhece, sou médica infectologista e amo minha profissão e o profissional da área da saúde geralmente tem uma carga horária de trabalho extenuante.
Resolvi que não iria me preocupar com esta questão durante a gestação, conselho dado por um colega médico pediatra, que me orientou “esperar o nascimento” para sentir realmente as necessidades da pequena.
Seja como for, uma época difícil para uma mãe é o término da licença maternidade, o corte deste cordão umbilical é dolorido demais. E para uma mãe de uma criança com deficiência dói mais ainda. Pensava a todo o momento: estou fazendo o certo em querer voltar ao trabalho tão cedo? Devo voltar mais tarde? Aliás, devo voltar?
Tenho uma rotina bem corrida entre lidar com a profissão e cuidar das crianças. Tenho duas filhas e moro em uma cidade grande, assim os “leva e traz” da vida são bem cansativos de uma maneira geral. E a Lorena ainda acrescentou às terapias dela na minha agenda: fonoaudiologia, fisioterapia, pediatras, médicos especializados, enfim, vários compromissos os quais não podem ser adiados de forma alguma.
Mas, como diz o ditado “Deus dá o cobertor conforme o frio”, tento conter minha ansiedade e viver um dia de cada vez, deixando a vida me dar as respostas no tempo certo. Confesso que já chorei por ter que trabalhar e pedir para outra pessoa levá-la a algum compromisso. Confesso que já senti culpa e me questionei inúmeras vezes se estaria fazendo o correto. Mas me fortaleci e decidi: vou trabalhar e ponto final. Por quê? Porque preciso da remuneração para proporcionar uma qualidade de vida para minhas filhas. Além do mais, amo o que faço e estudei muito para isso e por que me abdicaria de algo que me faz tão bem? Então por que a culpa? Porque a sociedade insiste em achar que a criança com síndrome de Down precisa viver em uma bolha de proteção, sob os olhares dos pais.
Com o passar do tempo e após muita informação, concluí que minha filha deve ser tratada como uma criança comum e é assim que tenho vivido meus dias. Claro, tenho me desdobrado em mil para trabalhar e cuidar das agendas das meninas. Apesar da correria, me dedico ao máximo a elas no meu tempo livre, ou seja, fora do trabalho sou mãe em tempo integral.
Já conversei com várias mães de crianças com deficiência e que trabalham fora e não se sentem culpadas por isso e tento me espelhar nelas. Sei que faço meu melhor pelas minhas filhas e a Lorena terá um ótimo desenvolvimento, como já tem demonstrado diariamente.
Vale lembrar que de maneira alguma estou criticando as mães que optaram por deixar o trabalho para ficar mais tempo com seus filhos. Eu optei por trabalhar, o que para mim foi a melhor escolha.