Depoimento de Gabriele Lomba, jornalista e mãe de Bernardo, que tem 1 ano e 3 meses e acaba de entrar na creche.
“Escola especial ou regular? Nunca tive essa dúvida: regular. Apesar de eu não ter estudado com nenhuma criança com qualquer tipo de deficiência, sei que as coisas mudaram para melhor. E caberia a mim dar mais um passo, matriculando meu filho numa escola regular. Bom para o desenvolvimento dele e para as outras crianças aprenderem, desde cedo, a conviver com o diferente.
Quando eu ainda estava grávida, antes de saber da síndrome de Down, tinha planejado: casa da vovó até completar 1 ano. Depois que Bernardo nasceu, porém, o geneticista recomendou antecipar a entrada na escola, por conta da socialização. A pediatra, no entanto, foi firme: “recomendo para qualquer criança só entrar depois de 1 ano”. Plano mantido – quer dizer, adiado em dois meses por conta de uma bronquiolite… preferimos esperar o inverno passar.
O que eu procurava? Como quase toda mãe, eu queria pátio grande, salas bem ventiladas, janelas amplas, alimentação saudável, poucas crianças por professora/auxiliar e muito carinho. Mas eu também tinha de perguntar sobre inclusão…. Perguntei, cheia de dedos.
Em uma das escolas que visitei, a resposta veio meio forçada. Não curti. Na segunda e na terceira, naturalidade. Era esse o caminho. E o que determinou a escolha foi ter visto uma menininha de dois anos, com síndrome de Down. Ela tomava seu suquinho no copo, participava de tudo dentro da sala de aula. Meu coração bateu forte. Segui o que ele queria me dizer.
Escrevo este texto um mês depois de Bernardo entrar na creche. Das quatro semanas, em uma ficou em casa. Bronquiolite. É o “pacote”. As outras três semanas, coincidência ou não, aceleram um bocado de coisas. O vocabulário aumentou: além do dá, dá, dá e bu, bu, bu o tempo todo, para minha alegria finalmente pintou o “mamãe” (depois do vovó, vovô, papai e pé).
Aprendeu a bater palmas, a dar tchau, a fazer o “give me five” (toca aqui!) e a se levantar sozinho, segurando no sofá. Se foi só a creche? Não, claro. Estímulos da família e da terapia continuam firmes e fortes. Mas o desenvolvimento acelerou muito, mesmo.
Fez mais amigos, assistiu a uma peça de teatro, tirou foto com o Chaves. Para mim, toda noite é aquela rotina na hora de ler a agenda e arrumar a mochilinha:
“Será que a quantidade de fraldas é suficiente? Duas mudas de roupa para emergências. É bom também deixar um lençolzinho. Em vez de biscoito, melhor fruta. Comeu bananinha amassada, que legal. Não fez número 2. A toalhinha sujou, tem que trocar. Semana que vem tem que fazer a pré-matrícula”.
O que desejo? Que as minhas preocupações sejam sempre gostosas assim. Porque é assim com todo mundo, né? Ou, ao menos, deveria ser.
A resposta sobre inclusão vem todos os dias. Durante a adaptação, a professora citou o Pedrinho, uma das quatro crianças com síndrome de Down que estudam lá. “Olho para ele e não vejo ‘o Pedrinho que tem síndrome de Down’. Vejo o Pedrinho”.
Obrigada, professora. Eu só quero isso mesmo, que o Bernardo seja o Bernardo. E ponto.”