Priscilla Mesquita mal entrou para a universidade de Educação Física e já conseguiu um emprego como professora de pilates, de zumba, alongamento, dança e ginástica. Sortuda? Que nada! Ela é arretada mesmo. A pernambucana de 24 anos e campeã brasileira de karatê, cursa o quarto período na Faculdade dos Guararapes, em Recife, e se forma em 2016. Ela conta que nunca deixou que o preconceito das outras pessoas por ela ter síndrome de Down a impedisse de batalhar e seguir em frente.
“As pessoas podem nos olhar como incapazes, mas eu sempre procuro mostrar como sou eficiente. Na faculdade, fui mostrando minhas habilidades e tirando boas notas. Algumas vezes a melhor nota de sala, porque preciso me esforçar mais do que todos que estão ali para mostrar que sou capaz. As coisas foram mudando. Hoje, no quarto período, algumas pessoas só querem ficar no meu grupo porque eu realmente estudo”, conta Priscilla, que ama o maracatu.
Priscilla foi estimulada por sua família desde os 3 meses de idade e acha que isso foi determinante para a conquista de sua autonomia e para sua opção pelo esporte. Ela treina karatê, natação, faz maracatu e dança e quando criança ainda praticou ginástica olímpica.
“Gosto muito de movimento. Fui muito estimulada e percebi o quanto me movimentar foi importante para o meu desenvolvimento motor e cognitivo. Andei mais rápido e passei a ter muita disciplina em tudo que faço. Escolhi Educação Física por ser um curso que ajuda as pessoas em suas atividades de vida diária. Gosto de ajudar as pessoas a andar melhor, aliviar uma dor que estejam sentindo… E adoro ver as pessoas felizes nas minhas aulas de zumba, dança e fitball”, diz.
Na lista de suas conquistas, estão sua festa de 15 anos – “foi linda”; a conclusão do Ensino Médio; ter entrado para a faculdade; ser campeã pernambucana e brasileira de karatê; conseguir um emprego no Studio Vip Pilates com poucos meses de curso; participar do Maracaarte (grupo de maracatu da ONG Integrarte):
“Lá eu faço batucada, maracatu, dança, me apresento em teatros e vejo muitas pessoas felizes com isso”.
No dia a dia do trabalho, Priscilla se sente realizada:
“Minhas colegas de trabalho e a dona do estúdio são maravilhosas comigo. Fazemos grupos de estudo, estudamos as avaliações dos alunos e, no meu caso, estudo na academia e em casa para reforçar. O preconceito ainda existe por parte de alguns alunos, mas o ambiente ajuda porque ninguém me trata como diferente. Produzo muito e apresento resultados. Por isso adoro esse trabalho”.
Os sonhos para o futuro – casar, ter filhos, ser feliz – são os mesmos de qualquer jovem de 24 anos. Priscilla só acrescenta um item a mais à lista:
“Quero ser aceita como eficiente e não como diferente”.
Por: Adele Lazarin e Simone Intrator
Fotos: arquivo pessoal