Dicas práticas para professores 2 – Apoiando a conexão entre alunos na sala de aula inclusiva

Por Catia Malaquias e Dr. Robert Jackson

Este é o segundo de uma série de artigos curtos destinados a fornecer algumas dicas práticas para os professores para melhorar a inclusão de suas salas de aula de ensino geral. Você pode ler os outros artigos nos links no final deste artigo.

Os professores prontamente reconhecem os objetivos acadêmicos da educação inclusiva – e, consequentemente, a necessidade de aplicar instrução diferenciada e desenho universal para dar aula para uma classe diversificada, incluindo estudantes com deficiência. No entanto, os benefícios sociais e de independência da educação inclusiva ao longo da vida são igualmente importantes, mas às vezes são esquecidos.

Os resultados da inclusão social são otimizados quando:

Os colegas de um estudante o aceitam como membro de seu grupo – como um colega estimado; e a conexão com os colegas é mantida através de toda a sua experiência escolar.

Foto: Rovena Rosa / Imagens do Povo.
Foto: Rovena Rosa / Imagens do Povo

 

Os benefícios acadêmicos e sociais da educação inclusiva estão interconectados – todos os alunos, incluindo os alunos com deficiência, são susceptíveis de alcançar mais academicamente se eles fazem parte de sua sala de aula socialmente . Além disso, a partir de uma perspectiva de saúde a longo prazo, os estudantes que se sentem socialmente excluídos e isolados estão em maior risco de enfrentar problemas de saúde mental, como ansiedade e depressão.

 

 

A conexão entre pares na sala de aula tem boas chances de levar à conexão dos pares no recreio, no pátio, e, finalmente, à conexão social nos locais de trabalho, na comunidade e na vida em geral.

Os professores são fundamentais para a experiência em sala de aula e estão em posição de influenciar o grau e a qualidade da conexão entre pares de cada aluno, resultando na inclusão social.

Apenas ter um aluno com deficiência em uma sala de aula regular não significa que o aluno se sente “incluído” ou é percebido como “incluído” pelos seus pares. Inclusão e pertencimento têm mais a ver com as relações do aluno dentro da sala de aula. Por exemplo, um aluno com deficiência que recebe a maior parte da sua instrução de um assistente de educação no canto de uma sala de aula regular pode muito bem se sentir e ser visto pelos seus pares como o “outro” na sala de aula. A presença física na sala de aula é necessária, mas não o suficiente. A conexão entre pares é crítica para um resultado inclusivo de “todos nós” na sala de aula, ao invés de um resultado excludente “nós e outros”.

Aqui estão algumas dicas práticas para professores que tentam apoiar a conexão de colegas para maximizar a qualidade da inclusão social de sua sala de aula – algumas das dicas são particularmente relevantes para estudantes com deficiência intelectual.

1) RECONHEÇA A DIVERSIDADE EM SUA CLASSE. Cada um de seus alunos é diferente. Cada aluno tem pontos fortes e desafios individuais. As discussões em classe sobre a diferença podem promover uma apreciação da diversidade. O respeito à diversidade sustenta a verdadeira inclusão.

2) TRAGA A IGUALDADE PARA A SUA CLASSE. Cada estudante tem o mesmo direito de estar em sua classe. Seus alunos se aceitarão mais prontamente uns aos outros como membros iguais da classe, se eles o vêem tratando cada um deles como participantes iguais, valorizando a contribuição única de cada aluno como indivíduos e como aprendizes. Os alunos tomam você como exemplo sobre o que “valorizar” na sala.

3) INCLUA TODOS OS ALUNOS EM ATIVIDADES DE CLASSE. Se um aluno com deficiência regularmente NÃO está sendo ativamente envolvido ou envolvido em algumas aulas ou atividades ou está sendo regularmente EXCLUÍDO de atividades específicas, seja por meio de aprendizagem individualizadas ou em programas separados, logo, os pares terão menos probabilidade de ver o aluno como um colega “completo” ou “igual”. Fazer perguntas que seu aluno será capaz de responder, pedir que seu aluno repita a resposta de outro aluno ou simplesmente usar exemplos de ensino que dão ao aluno a oportunidade de se envolver e contribuir, são maneiras de melhorar a conexão desse aluno com a aula de aula, mesmo quando os colegas estão aprendendo em um ritmo diferente. Todos os alunos devem participar da aula principal.

4) UTILIZE O APOIO DE COLEGAS COMO UMA FERRAMENTA DE CONEXÃO ACADÊMICA E SOCIAL. Os alunos de sua turma podem ajudar a ensinar conceitos a um aluno que pode precisar de apoio adicional para a aprendizagem. Alguns alunos apreciarão essa oportunidade enquanto fazem as tarefas ou depois de concluírem o seu próprio trabalho. Ensinar outro aluno obriga um aluno a aprender primeiro os conceitos e, consequentemente, reforça esses conceitos em seu próprio benefício. Sob a perspectiva de benefício acadêmico, o apoio de colegas em salas de aula inclusivas tem se mostrado mutuamente benéfica para ambos os alunos. Do ponto de vista social, também oferece a oportunidade de desenvolver uma conexão de qualidade com seus pares. O apoio dos pares é benéfica academicamente, socialmente poderosa e traz enriquecimento pessoal para os envolvidos,

5) EVITE O IMPACTO DE UM ASSISTENTE DE EDUCAÇÃO “GRUDADO”. É evidente que alguns alunos irão exigir um alto grau de apoio do assistente de educação, mas desde o começo deve ficar claro que é você e não o assistente de educação, o professor do aluno. Como professor da turma, dar instrução direta ao seu aluno é oferecer instruções diretamente ao aluno é fundamental para que o aluno se sinta e seja percebido como parte de sua classe. Mesmo com alunos que necessitam de apoio significativo, o seu objetivo deve ser progressivamente diminuir a dependência do assistente de educação. Um bom recurso é a instituição de um tempo de “aprendizagem independente” (mesmo a partir de alguns segundos ou minutos em cada lição) ou através da substituição da atenção do assistente por apoio dos colegas. Estas estratégias também liberam o assistente de educação para apoiar e formar uma relação de apoio com a classe como um todo. Uma extensa pesquisa internacional mostrou que um auxiliar de educação diretamente ligado a um estudante dificulta o desenvolvimento social e acadêmico efetivo do aluno e envia a mensagem de que o aluno “pertence” exclusivamente ao assistente de educação, e não à classe. Um assistente de educação “grudado” pode inibir o desenvolvimento da conexão entre um aluno e seu professor, bem como entre o aluno e seus pares. Além disso, um estudante que parece estar sendo “mimado” pelo assistente de educação corre o risco de não ser socialmente aceito por seus pares. Criar uma relação apropriada entre o assistente de educação, o professor de classe, o aluno com deficiência e todos os outros alunos é fundamental para a classe inclusiva.

6) MINIMIZAR AS SITUAÇÕES “EXCEPCIONAIS”COM O ALUNO. Muitos ajustes e adaptações são necessários e apropriados para que um aluno com deficiência tenha seu direito à educação garantido. No entanto, a maioria dos alunos, incluindo os alunos com deficiência, têm uma inclinação a não querer se destacar diante dos olhos dos seus pares e é importante para os professores sejam sensíveis a isso. O benefício de alguns ajustes na sala de aula (por exemplo, uma almofada de apoio especial para a sessão recomendada por um profissional de saúde) pode ser não parecer grande coisa, mas o custo “excepcional” em termos do impacto do ajuste sobre a percepção do aluno sobre si mesmo e o efeito que ele tem sobre a vontade dos colegas de aceitar e se conectar com esse aluno pode ser significativo. Manter a conexão de pares é um objetivo valioso em si mesmo que nem sempre pode ser apreciado por profissionais de saúde ou pais. Considere sempre, inclusive consultando com o próprio aluno, se um objetivo particular pode ser alcançado de outra forma que minimize ou evite “excepcionalizar” o aluno.

7) COMPRENSÃO E ACEITAÇÃO DE AJUSTES INDIVIDUAIS OU ATIVIDADES NECESSÁRIOS. Em consistência com a construção de uma apreciação da diversidade em sua sala de aula, você deve facilitar a aceitação de quaisquer ajustes que são necessários para o seu aluno com deficiência, explicando seu propósito e benefícios para os colegas do aluno. As explicações também ajudam outros alunos a ver as adaptações como “justas”. Ajustes que são compreendidos são mais facilmente aceitos. Os ajustes necessários são consistentes com a diversidade dentro da sala de aula inclusiva.

8) COMPARTILHE A EXPERIÊNCIA DE AJUSTES NECESSÁRIOS. Quando for considerado necessário ou apropriado que um aluno com deficiência realize uma determinada atividade ou tenha um ajuste específico, considere se essa atividade ou ajuste pode ser uma experiência compartilhada com outros membros da classe. Por exemplo, uma pausa “sensorial” ou exercícios “sensoriais” envolvendo alguma atividade física podem beneficiar outros estudantes ou podem ser apresentados de forma positiva como uma recompensa para outros estudantes. Além disso, o ensino de linguagem gestual para sua classe pode aumentar drasticamente a inclusão de um aluno com dificuldades de audição ou fala. O compartilhamento, por definição, torna a experiência ou ajuste mais inclusivo.

8) PONHA-SE NO LUGAR DE SEU ESTUDANTE. Você deve se perguntar regularmente: “Como eu me sentiria se estivesse no lugar do meu aluno? O que os outros estudantes pensariam? “Essas perguntas induzirão a considerar se a sua resposta deve ser a de tomar medidas deliberadas para minimizar “excepcionalizar” o aluno e / ou promover a compreensão e aceitação em pares. Testar a estrutura da sua turma, as práticas e o impacto de quaisquer ajustes na perspectiva de todos os seus alunos é uma maneira importante de testar a eficácia das adaptações.

9) ESCUTE SEUS ESTUDANTES E OS PAIS DELES. Qual é o pensamento lógico em sua sala de aula? Como seus alunos interagem? Como eles falam uns sobre os outros? Sua conduta diária subconsciente e sua linguagem irá revelar se a mentalidade subjacente é “todos nós” ou “nós e os outros”.

As providências para melhorar a conexão entre os alunos com deficiência e seus pares e a inclusão social de uma sala de aula devem ser tomadas o mais rápido possível – as percepções de exclusão tornam-se mais enraizadas com o tempo.

Tradução: Patricia Almeida

Fonte: http://www.startingwithjulius.org.au/practical-tips-for-teachers-no-2-maximising-peer-connection-in-the-inclusive-classroom/

Veja também:

Dicas práticas para professores 1 – Criando uma sala de aula inclusiva

http://www.movimentodown.org.br/2016/01/criando-uma-sala-de-aula-inclusiva/