Por Fernando Heiderich*
Estou muito feliz com a iniciativa da feed&food em trazer a seus leitores um assunto que ainda
não ocupa lugar merecido no dia a dia das pessoas e empresas.
Empresas são pessoas, o reflexo delas. Ao falar do Ganha-Ganha da Diversidade e Inclusão ,
oferecemos um espaço de inspiração a vida e aos negócios. Esse espaço poderá ser usado
também para mostrar o seu caso, sua experiência e visão dessa relação com as diferenças.
Portanto, me escrevam (fernando@metasocial.org.br) que terei prazer em compartilhar.
Este é mais um grande passo no programa de sustentabilidade da Ciasulli Editores. O aspecto
social, uma das três colunas da sustentabilidade, inclui a diversidade, que até pouco tempo
nunca foi vista como produtiva pelas corporações em geral. Na verdade, nem mesmo pelos
governos e Nações (o Estado politicamente organizado). Tampouco na cadeia do agronegócio,
onde ainda é vista como um desafio, algo que preocupa, atrapalha, dificulta e consome
energia e recursos. Ficava na miopia dos que não veem no mundo uma gama de diferenças,
uma pluralidade nos diversos segmentos, culturas, regiões, etc.
No entanto, um novo olhar já começa a ser percebido por alguns players do agribuness
mundial. Essa nova visão reconhece na diversidade um valor intrínseco, que prepara melhor a
gestão, oferece maior aceitação de produtos e serviços e torna o negócio mais sustentável e
adaptado aos diferentes públicos e realidades, com uma proposta de valor mais ampla, que
solidifica a eficiência operacional. Hoje, o discurso de praticamente todos os CEOs inclui a
diversidade como parte dos valores da empresa, pois sabem que não podem perder mais
tempo sem aproveitar desse ‘ativo’. Eles já sabem que, ao incluírem a diversidade, poderão
ganhar mais.
No entanto, ainda há muito o que fazer para mudarmos esse quadro e passarmos do discurso
à pratica, abraçando a diversidade de forma real, seja no gênero, raça, deficiência, idade, etc.
Alguns dados são claros nesse sentido. Gosto de citar como exemplo o número global de CEOs
mulheres que, nos EUA, é de somente 5% do total. No resto do mundo, estima-se seja no
máximo 3%. Assim como a participação de negros nos negócios da era da tecnologia, que não
passa de 3% na maioria das corporações. Estes dados deixam claro que ainda temos muito a
fazer para que a igualdade de oportunidades seja uma realidade no mundo, no Brasil, no
agronegócio.
E o agronegócio brasileiro e mundial precisa também estar alinhado com as Metas 2030 das
Nações Unidas. A número 10 é “Redução das Desigualdades”. Dentro da diversidade, temos
um segmento que ainda não tem visibilidade e é a maior das minorias: as pessoas com
deficiência (PcD). Chegam a quase 1 bilhão de pessoas no mundo, uma em cada sete na média,
e um pouco mais ainda nos países e em áreas de maior pobreza. São, portanto, muitos! Esse
segmento em geral tem uma importância incrível como talento para as empresas e ainda como
consumidores importantes de produtos e serviços. Nos EUA, por exemplo, os quase 54 milhões
de PcD recebem quase US$ 1 trilhão por ano e tem como poder de compra mais de US$ 220
bilhões. Para se ter uma ideia, é quase o dobro do poder de compra de todo o segmento de
jovens. Além de serem incrivelmente importantes como consumidores de produtos e serviços,
as PcD também agregam valor onde trabalham. Por isso, prefiro chamá-las de Talentos com
Deficiência (TcD).
Pesquisas no Brasil e em vários outros países, assim como casos reais reportados por empresas
aqui e lá fora, mostram o ganho de saúde organizacional e, por consequência, a melhora
significativa da eficiência operacional nas áreas onde fizeram/fazem a inclusão de TcD.
Em recente pesquisa da McKinsey no Brasil, patrocinada pelo Instituto Alana (área social do
Banco Itaú), notou-se que, dentre nove áreas de avaliação da eficiência operacional, em cinco
delas houve ganho significativo com a inclusão de TcD. Nas outras não houve alterações
significativas. Mas, em cinco delas, portanto, mais da metade dos parâmetros, e em todos os
casos, o ganho pode se refletir em maior eficiência operacional. Melhores resultados como
maior ROS, ROA e ROI. Posso enviar o relatório completo em PDF aos que solicitarem. Está
disponível em inglês, espanhol e português. É pesquisa recente, realizada no Brasil, com
centenas de empresas e casos reais. Portanto, esse novo olhar para o Ganha-Ganha da
Diversidade e Inclusão de TcD é um “MUST”, algo que deve fazer parte das empresas.
A decisão de contratar um TcD não pode ficar mais somente em cumprir cotas ou o papel
social da empresa, é uma questão de competência de gestão. Por isso, a percepção e o novo
olhar da inclusão com valor agregado cresce e deve ser parte da cadeia do agronegócio. Agarre
“esse touro pela unha”, numa relação ganha-ganha que pode melhorar a sua vida e o seu
negócio, tornando o mundo muito mais sustentável.
* Fernando Heiderich é médico veterinário e diretor sênior do Instituto Meta Social, onde é
membro ativo desde sua fundação, em 1993. Trabalhou mais de 30 anos na indústria de saúde
animal e renunciou de seu último cargo como vice-presidente de Marketing Global da Merck
AH no final de 2014 para se dedicar a ajudar na inclusão de pessoas com deficiência.
Coluna publicada originalmente na Revista Feed&Food