De 2011 a 2017, 184.524 casos de violência sexual foram notificados no Brasil. Entre crianças do sexo feminino, 51,9% estavam na faixa etária entre 1 e 5 anos e 42,9%, de 6 e 9 anos. 45,5% eram da raça/cor de pele negra, e 3,3% possuíam alguma deficiência ou transtorno.
Apesar dos números alarmantes, pouco tem sido feito como forma de prevenção.
Uma nova iniciativa pretende ajudar famílias e educadores a ensinarem às crianças a se protegerem e se defenderem de abusos desde cedo.
“Eu Me Protejo” é uma cartilha ilustrada, em linguagem simples, que pode ser baixada e impressa ou acessada gratuitamente pela internet.
Idealizadora do projeto, a jornalista Patricia Almeida, é mãe de três meninas. Voltou para o Brasil de uma temporada no exterior e matriculou a caçula, de 15 anos, que tem síndrome de Down, na escola pública. A jovem tinha passado os últimos anos em Genebra, estudando com professores particulares porque na Suíça ainda não há escolas inclusivas.
“Por um lado, estava super feliz por poder voltar ao meu país e ter acesso ao ensino inclusivo, que as pesquisas mostram que é melhor para minha filha e para todos. Por outro, entrei em pânico, pois minha filha não tinha tido a oportunidade de conviver com colegas da sua geração e não estava preparada para os perigos da vida. Daí eu pensei: ela precisa aprender a se defender”.
Cofundadora do Movimento Down, a jornalista começou a pesquisar para montar uma cartilha que unisse educação e proteção. “Vi que havia muito pouco material. Entrei em contato com especialistas que atuam nessa área, que concordaram em participar do grupo consultivo voluntariamente pelo WhatsApp”. Depois de um ano de discussões, o resultado foi uma cartilha produzida colaborativamente e já testada pelos participantes em escolas, consultórios e com seus filhos, em suas próprias casas. O primeiro volume da cartilha contempla crianças até 8 anos.
Usando as técnicas do “Desenho Universal para a Aprendizagem”, ” Easy Read” e “Linguagem Simples”, o material é de fácil entendimento e traz recursos de acessibilidade, podendo ser usado por todos. “Sabe desenhar para entender? Toda informação de utilidade pública deveria ser elaborada em comunicação simples e validada pelo público alvo”, explica Patricia.
A representatividade também está garantida pelas diferentes características físicas dos personagens.
“Tem muitas questões inseridas dentro desse material, como auto-estima e ser responsável pela própria vida. Se você aprende desde cedo a dizer – Meu corpo é meu -, as chances são de que cresça se valorizando e possa se defender do que vier pela frente, seja um abusador na infância, um namorado violento, um chefe assediador ou um marido assassino. Gostando e cuidando de você mesma, você nem chega a entrar em relações desiguais e nocivas. E isso vale para qualquer um!”, afirma Patricia.
“É uma lacuna que existia e agora é preenchida de forma inclusiva. Esperamos que seja aproveitado pelas famílias, nas escolas, grupos de igreja ou qualquer lugar onde haja crianças, para sua proteção”, conclui a autora.
O projeto é completamente independente e gratuito. O site está em construção e vai contar com recursos de acessibilidade a partir de parcerias com interessados.
Baixe a cartilha no site:
Email: eumeprotejobrasil@gmail.com
Facebook: https://www.facebook.com/eumeprotejobr/
Instagram: https://www.instagram.com/eumeprotejobrasil/
Twitter: https://twitter.com/EuMeProtejoBR
Como começou o projeto: https://www.eumeprotejo.com/como-comecou-o-projeto