ENGLISH TRANSLATION OF THE INTERVIEW BELOW
As ativadoras do Movimento Down, Vivi Reis e Cristiane Zamari, receberam uma missão: visitar o casal Rodrigo Terra e Cássia Souza e conversar com os dois sobre várias questões que nos interessava saber.
Descobrimos o casal quando Cássia apareceu numa matéria do Jornal Extra fazendo um desabafo. O que a motivou foi um vídeo do casal Thais Carla, e Israel, em que reclamavam de preconceito e críticas contra o casal, por ela ter sobrepeso e ser branca e seu companheiro ser negro. Nas palavras de Thais Carla: “As pessoas duvidam muito do amor. Viva a diferença. Não importa como você é, você ama do jeito que você quiser”.
Cássia se identificou com a história e o Jornal Extra publicou uma entrevista com ela com o título “O amor da minha vida tem Down”. Só que a matéria só ouviu o lado da Cássia. E nós queríamos ouvir o Rodrigo também!
Obrigada, Vivi e Cris por aceitar essa missão e nos darem este presente e Gabi Lomba e Mariana Reade por editarem o material!! Obrigada Rodrigo e Cássia por existirem e abrirem sua casa e seus corações para nós!!!
Assista o vídeo da entrevista e leia, abaixo, um resumo do bate-papo.
As ativadoras do MD, Vivi Reis e Cris Zamari estiveram com Rodrigo Torres e sua companheira Cássia Souza e entre perguntas e risadas fluiu uma entrevista muito gostosa
Vivi e Cris: Olá Rodrigo, qual tua idade? Você tem síndrome de Down?
Rodrigo: Bom dia, estou muito feliz de ter vocês aqui. Tenho 35 anos e tenho síndrome de Down do tipo Mosaico* , algumas pessoas se espantam porque falo bem e levo uma vida normal, ainda existe muita desinformação em relação às pessoas com síndrome de Down.
* Nota MD: Apenas 1,5% da população com síndrome de Down apresenta mosaicismo, enquanto 95% nasceram com a trissomia simples ou livre. Entenda as formas de síndrome de Down.
Vivi e Cris: Rodrigo, como foi sua infância? Com quem você morava, você tem irmãos?
Rodrigo: Ah….não lembro muita coisa. Morei com minha mãe porque meu pai morreu eu tinha 8 anos. Morei com a minha mãe, mas depois ela ficou doente e fomos morar com minha irmã.
E depois que minha mãe faleceu eu fiquei um tempo morando sozinho.
Vivi e Cris: Você lembra de ter frequentado algum instituto e de ter sido estimulado com terapias?
Rodrigo: Quando eu era pequeno minha mãe me levou na Casa da Esperança em Santos, para ver como era o meu desenvolvimento, mas depois da avaliação disseram que eu não precisava de terapias.
Vivi e Cris: Quando você entrou na escola e como era a sua escola?
Rodrigo: Não lembro se frequentei desde bem pequeno a escola, mas lembro de 10 anos estar na escola e onde eu estudava tinha uma sala especial dentro da escola regular. Na hora do lanche brincávamos todos juntos.
Vivi e Cris: Você lembra de ter feito fisioterapia, fono?
Rodrigo: Nunca fiz terapias, disseram que eu tinha um bom desenvolvimento e não precisava. Meu exame, cariótipo deu que tenho síindrome de Down do tipo Mosaico.
Vivi e Cris: E quanto aos esportes? Você pratica esportes?
Rodrigo: Eu sempre pratiquei esporte na minha vida, comecei com natação, depois fui para o Biatlo e depois para o Triatlo.
Vivi e Cris: E você praticava esporte com pessoas com deficiência e sem deficiência?
Rodrigo: Eu praticava esporte com todos, com e sem deficiência, mas na hora de competir, eu competia com as pessoas com deficiência, algumas tinham síndrome de Down e outras tinham outro tipo de deficiência.
Vivi e Cris: As pessoas à tua volta queriam te proteger?
Rodrigo: Sim, muitas pessoas que conviviam comigo além da família tinham sempre a preocupação em querer me ajudar, e eu dizia que não precisava, que estava tudo bem, que eu sabia me virar muito bem sozinho.
Vivi e Cris: Quais são as tuas qualidades e dificuldades?
Rodrigo: Sou uma pessoa carinhosa, sou solidário, gosto de ajudar. E a única coisa que vejo como dificuldade é em relação ao olhar de algumas pessoas comigo. Outras nem percebem que teu tenho SD.
Vivi e Cris: Você sentiu muita dificuldade nos teus primeiros trabalhos?
Rodrigo: Sim, mas isso não fez com que eu deixasse de ser curioso e conseguisse realizar bem os trabalhos.
Vivi e Cris: Você foi alfabetizado na escola?
Rodrigo: Sim, não tenho dificuldades em relação aos estudos, a não ser matemática. (risadas…)
Vivi e Cris: Quais são teus sonhos?
Rodrigo: Meu grande sonho junto com a Cássia é poder casar legalmente. E meu grande sonho profissional é de um dia ter meu próprio negócio, ser empresário ou ser treinador de futebol. Amo futebol!
Vivi e Cris: Aproveitando, qual teu time do coração?
Rodrigo: Santos Futebol Clube e o da Cássia é Coríntias, as vezes brigamos um pouquinho, mas eu ainda convenço ela a virar Santista.
Vivi e Cris: Quais são teus ídolos?
Rodrigo: Frank Sinatra é meu ídolo Top dos Tops, mas como jogador de Futebol, Cristiano Ronaldo e o Léo – lateral esquerda do SFC. Antes de conhecer a Cássia eu ia muito ver jogo na vila, mas agora com a vida juntos eu vou menos no estádio, sabe como é vida de casado, né? (risadas…)
Vivi e Cris: E como vocês se conheceram?
Cássia: Nos conhecemos em uma balada, ele me abordou de um jeito diferente, eu gostei e ficamos juntos naquela noite. Conversamos por horas a fio…foi muito bom! Senti uma afinidade com ele que nunca tinha sentido antes.
Vivi e Cris: E como você descobriu que ele tinha síindrome de Down, Cássia?
Cássia: Eu desconfiei que ele tivesse síndrome de Down, porque eu já tinha tido contato com uma pessoa com Sd, embora o Rodrigo tenha um comportamento diferente, a outra pessoa que conheci tinha muito comprometimento. Depois de algum tempo ele quis me contar que tinha síndrome de Down e eu disse: Tá bom, e daí? Adoro estar com você e isso é o que importa. Te amo do jeito que você é!
Vivi e Cris: E quando ela disse que tudo bem, que não se importava que você tivesse síndrome de Down, o que você sentiu, Rodrigo?
Rodrigo: Na hora eu não acreditei e achei que não podia ser verdade, que mesmo ela sabendo que eu tinha síndrome de Down ela ainda assim, queria estar comigo. Mas foi tão sincero, não tive como resistir…e acreditei! Estamos juntos já há quase 5 anos.
Vivi e Cris: Cássia, que diferença faz na tua vida o Rodrigo ter síndrome de Down? Como você o enxerga?
Cássia: Eu enxergo ele como um homem totalmente capaz, ele é carinhoso, bom, prestativo e me surpreende sempre de um jeito maravilhoso. É inteligente e responsável.
Ele é o homem da minha vida. E o fato dele ter a síndrome de Down nunca interferiu em nada pelo o que sinto por ele.
Vivi e Cris: O que vocês esperam do futuro?
Rodrigo: Esperamos ter oportunidade de trabalhar melhor e pensar realmente no nosso futuro de um jeito mais tranquilo, porque já passamos dificuldades e é muito ruim. E queremos também adotar um bebê e quem sabe um dia, termos nossa própria empresa.
Vivi e Cris: E qual mensagem vocês deixam para as pessoas que tem alguém com síndrome de Down na família?
Cássia: Não desistam dos seus filhos! Eles podem fazer tudo o que quiserem, não coloque limitações para eles. Eu, Cássia, nunca olhei o Rodrigo como um coitado ou incapaz, sempre vi nele uma pessoa maravilhosa e que me conquistou. As pessoas acham que eu ajudo ele, mas não têm a menor idéia de como ele me ajuda, sou muito grata a Deus e a vida por ter colocado ele no meu caminho.
Rodrigo: Força família! Vai ter sempre alguém dizendo – Para que dar todas oportunidades para teu filho? E eu digo: Não escutem! Não acreditem nessas pessoas que tentam te colocar pra baixo. Não permitam que os outros limitem seus filhos. Ele é capaz! Não desista! O que está dentro de você é mais forte!
Nota das entrevistadoras: Foi incrível ver o olhar dele dentro dos olhos dela e vice-versa. Um amor bonito, baseado em uma grande cumplicidade e respeito. Depois de 5 anos juntos, é possível sentir ainda uma enorme paixão entre eles.
ENGLISH TRANSLATION
The activators of Movimento Down, Vivi Reis and Cristiane Zamari, were given a mission: to visit the couple Rodrigo Torres and Cássia Souza and talk to them about various issues that we were interested to know.
We discovered the couple when Cássia appeared in an article in Extra Newspaper making a statement. What motivated her was a video of a couple, Thais Carla, and Israel, in which they complained of prejudice and criticism against the two, because she was overweight and white and her partner was black. In the words of Thais Carla: “People are very doubtful of love, live the difference, no matter what you are, love the way you want.”
Cassia related to the story and Extra News published an interview with her with the title “The love of my life has Down”. Only, the story just brought Cassia’s side. And we wanted to hear Rodrigo’s too!
Thank you, Vivi and Cris for accepting this mission and giving us this gift, and Gabi Lomba and Mariana Reade for editing the material !! Thank you Rodrigo and Cassia for existing and opening your home and your hearts to us !!!
Watch the video with the interview (subtitles soon!) And read, below, a summary of the chat.
Vivi and Cris: Hello Rodrigo, how old are you? Do you have Down syndrome?
Rodrigo: Good morning, I’m very happy to have you here. I am 35 years old and I have Mosaic Down Syndrome *, some people are astonished because I speak well and lead a normal life, there is still a lot of misinformation about people with Down syndrome.
* Note MD: Only 1.5% of the population with Down syndrome presented mosaicism, while 95% were born with simple or free trisomy. Understand the forms of Down syndrome.
Vivi and Cris: Rodrigo, how was your childhood? Who did you live with, do you have siblings?
Rodrigo: Oh …. I do not remember much. I lived with my mother because my father died when I was 8 years old. I lived with my mother, but then she got sick and we moved in with my sister.
And after my mother passed away I spent some time living alone.
Vivi and Cris: Do you remember having attended an institute and being stimulated with therapies?
Rodrigo: When I was a kid, my mother took me to the “Casa da Esperança” in Santos to see what my development was like, but after the evaluation they said that I did not need therapies.
Vivi and Cris: When did you go to school and what was your school like?
Rodrigo: I do not remember if I attended school very early, but I remember being 10 years old at school and where I was studying I had a special room inside the regular school. At lunch time we all played together.
Vivi and Cris: Do you remember having physical therapy, speech therapy?
Rodrigo: I never did therapies, they said that I had a good development and did not need it. My karyotype result was that I have Down Syndrome Mosaic type.
Vivi and Cris: What about sports? Do you practice sports?
Rodrigo: I always practiced sport in my life, I started with swimming, then I went to Biathlon and then to Triathlon.
Vivi and Cris: And you practiced sports with people with disabilities and without disabilities?
Rodrigo: I practiced sports with everyone, with and without disabilities, but when it came to competing, I competed with people with disabilities, some had Down syndrome and others had another type of disability.
Vivi and Cris: Did the people around you want to protect you?
Rodrigo: Yes, a lot of people who lived with me and the family were always worried about me and wanted to help me, and I said I did not need to, that everything was okay, that I knew how to do things very well on my own.
Vivi and Cris: What are your talents and difficulties?
Rodrigo: I am a caring person, I stand in solidarity, I like to help. And the only thing I see as difficult is the way people look at me. Others do not even realize that I have SD.
Vivi and Cris: Did you find your first jobs hard to do?
Rodrigo: Yes, but that did not make me stop being curious and getting the job done well.
Vivi and Cris: Did you learn to read and write at school?
Rodrigo: Yes, I did not have difficulties in school, except for mathematics. (Laughs …)
Vivi and Cris: What are your dreams?
Rodrigo: My big dream is to be legally married to Cassia. And my great professional dream is to to have my own business one day, be an entrepreneur or a football coach. I love soccer!
Vivi and Cris: Speaking about that, which soccer team do you support?
Rodrigo: Santos Football Club and Cássia is a Corinthias’ supporter, sometimes we fight a little, but one day I will will convince her to become “Santista”.
Vivi and Cris: Who are your idols?
Rodrigo: Frank Sinatra is my idol Top of the Tops, but as Soccer player, Cristiano Ronaldo and the Léo – left side of the SFC. Before I met Cassia, I went to see a lot of games in the village, but now that we are living together, I go less to the stadium, you know, married … (Laughs …)
Vivi and Cris: And how did you two meet?
Cassia: We met at a disco, he approached me in a different way, I liked it and we got together that night. We talked for hours on end … it was very good! I felt I had an affinity with him that I had never felt before.
Vivi and Cris: And how did you find out that he had Down syndrome, Cassia?
Cássia: I suspected that he had Down syndrome because I had already had contact with someone with Down syndrome, although Rodrigo had a different behavior, the other person I met had a lot of challanges. After a while he wanted to tell me that he had Down syndrome and I said, Okay, so what? I love being with you and that’s what matters. I love you just the way you are!
Vivi and Cris: And when she said okay, she did not care that you had Down syndrome, what did you feel, Rodrigo?
Rodrigo: At the time I did not believe it and I thought it could not be true, that even though she knew I had Down syndrome she still wanted to be with me. But it was so sincere, I could not resist … and I believed! We’ve been together for almost 5 years now.
Vivi and Cris: Cassia, what difference does it make in your life that Rodrigo has Down syndrome? How do you see him?
Cassia: I see him as a fully capable man, he is affectionate, kind, helpful and always surprises me in a wonderful way. He is intelligent and responsible.
He is the man of my life. And the fact that he has Down syndrome never interfered with anything because of what I feel about him.
Vivi and Cris: What do you expect from the future?
Rodrigo: We hope to have the opportunity to find better jobs and really think about our future in a more relaxed way, because we have already had difficulties and it is very bad. And we also want to adopt a baby and maybe one day to have our own company.
Vivi and Cris: And what message do you leave for the people who have someone with Down syndrome in the family?
Cassia: Do not give up on your children! They can do whatever they want, do not put limitations on them. I, Cassia, have never looked at Rodrigo as a pitiful or incapable person, I have always seen him as a wonderful person who has conquered me. People think I help him, but they have no idea how he helps me, I’m grateful to God and life for putting him in my way.
Rodrigo: Be strong, family! There will always be someone saying – Why do you have to give every opportunity to your child? And I say: Do not listen! Do not believe these people who try to put you down. Do not allow others to limit your children. He is able! Do not give up! What is inside you is stronger!
Interviewers note: It was amazing to see his gaze in her eyes and vice versa. A beautiful love, based on a great complicity and respect. After 5 years together, you can still feel a huge passion among them.
Fonte: Movimento Down