No mês passado, fui fazer uma sessão de fotos para a edição do Dia das Mães da revista Pais & Filhos, onde sou colunista. Coincidentemente, sentei ao lado de duas colunistas que são mães de filhos com deficiência. Ficamos conversando sobre nosso dia a dia e tivemos uma troca de informações muito produtiva. Entre tudo que falamos, uma coisa me marcou: eu não sou especial por ter uma filha Down e sim tenho uma filha muito especial, independentemente de qualquer deficiência.
Desde que soube que minha pequena teria síndrome de Down, no meu quarto mês de gestação, nunca pensei com desprezo, preconceito ou qualquer termo do gênero. Sempre amei aquele bebê na minha barriga, mas sofria de um sentimento muito forte: medo. Tive medo por meses, pois não sabia o que estava por vir.
Lorena nasceu em 04 de fevereiro 2013 e, assim que fez os primeiros exames, não havia nenhuma complicação grave. Mas sabia que um longo futuro estava por vir, com as terapias, necessidade de inclusão social, etc. O medo diminuiu naquele instante, porém não cessou.
“Ela, tão pequena, me enche de felicidade diariamente. O sorriso, a mãozinha pegando os objetos, o olhar me acompanhando, o reconhecimento dos pés… Para muitos parece pouco, para mim é um universo de alegria”
Trinta dias se passaram e Lorena vinha se desenvolvendo bem, mas o dia chegou: primeira sessão de fisioterapia e fonoaudiologia. O temor do desconhecido era grande e confesso que não tinha a menor vontade de submeter minha filha àquelas avaliações todas. Ledo engano. Como seria bom se tivéssemos uma bola de cristal para podermos enxergar as coisas lá no futuro… Quanta ansiedade seria poupada. Percebi as vantagens das terapias rapidamente: a cada sessão, uma evolução nova. Em cada gesto conseguido pela Lorena há um novo orgulho. Ela, tão pequena, me enche de felicidade diariamente. O sorriso, a mãozinha pegando os objetos, o olhar me acompanhando, o reconhecimento dos pés… Para muitos parece pouco, para mim é um universo de alegria.
Ainda tenho que trabalhar muito minha cabeça. Somos humanos e temos sentimentos que por vezes são confusos. Percebi que tenho que viver o hoje. Confesso: às vezes eu ainda choro. Por quê? Mera insegurança, pois quando olho para a pequena as lágrimas secam instantaneamente. É como se o olhar dela me questionasse o choro sem necessidade e me ensinasse a sorrir novamente.
Quando soube que minha pequena Lorena iria ter a síndrome fiquei muito triste, mas com certeza não tinha noção do presente que iria receber. Lorena tão pequena me faz crescer a cada dia. Lorena que ainda nem fala me ensina coisas de extrema sabedoria. Lorena que ainda nem caminha me ergue nas dificuldades. Lorena que ainda nem sorri me faz sorrir transbordando felicidade.
Esse texto, em especial, dedico a todas as mamães pelo Dia das Mães. Mães como eu: frágeis por fora, mas guerreiras por dentro.
Ivelise Giarolla é mãe da pequena Marina e da princesa Lorena. É esposa, amiga, família, médica, mulher guerreira. Feliz.
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Coluna na revista Pais & Filhos: