Este é o terceiro de uma série de artigos curtos destinados a fornecer dicas práticas para os professores para melhorar a inclusão de suas salas de aula de ensino geral. Você pode ler os outros artigos nos links listados no final deste artigo.
Um assistente de educação pode ser um recurso inestimável na sala de aula para apoiar o professor a incluir um aluno com deficiência. Ele pode ajudar o professor de classe a proporcionar uma grande experiência educacional para todos os alunos, bem como aumentar a independência e conexão social do aluno com deficiência.
Contudo, sabemos que, se um assistente educacional está muito ligado a um aluno com deficiência, sentado ao lado dele como um “professor substituto” e supervisionando-o de perto no pátio, isso se traduz em um resultado acadêmico e social mais limitado do que um estudante semelhante que não conta com assistente o tempo todo.
Por um lado, é difícil conceber qualquer outro tipo de relação onde um indivíduo tem uma maior capacidade de afetar os resultados de desenvolvimento a longo prazo de uma pessoa vulnerável, especialmente quando o aluno tem uma deficiência intelectual significativa. Nesse sentido, deve ser apreciado que a “relação de assistente de educação-estudante” envolve necessariamente a confiança de que o assistente de educação desempenhará seu papel de acordo com o melhor interesse do estudante. A longo prazo, essa relação tem de incluir o desenvolvimento da máxima independência e promoção de relacionamentos significativos com seus pares.
Um segundo aspecto digno de nota é que, embora a maioria dos empregos sejam melhor executados com maior diligência, esforço e engajamento, os benefícios acadêmicos, sociais e de independência da educação inclusiva para um aluno com deficiência provavelmente serão maximizados por um assistente educacional que, com o tempo, cada vez mais faça o mínimo necessário, o mais discretamente possível. Nesse sentido, “menos é mais”.
Aqui estão algumas dicas para orientar os professores na definição do papel adequado e relacionamentos de sala de aula para os assistentes de educação em suas aulas gerais inclusivas.
1. COMO PROFESSOR, VOCÊ DEVE SER O INSTRUTOR ACADÊMICO PRINCIPAL PARA TODOS OS MEMBROS DA CLASSE
Como professor da sala de aula, você é o instrutor primário de toda a classe, incluindo o aluno com deficiência. O papel do assistente de educação é ajudá-lo a preparar e executar a lição a ser ensinada, conforme necessário para ser adaptado por você para seu aluno com deficiência.
O assistente de educação não deve usurpar o seu papel como professor de classe em relação ao seu aluno com deficiência. É fundamental para o aluno o sentimento de pertencimento e conexão com a sala de aula que o aluno percebe, e que seus colegas percebem, e que o professor de classe seja o principal responsável pela instrução acadêmica de cada membro da classe.
Se o assistente de educação assume a responsabilidade primária pela instrução acadêmica de seu aluno com deficiência, isso significa que:
O aluno com características de aprendizagem mais desafiadoras não receberá suas instruções do membro do pessoal mais qualificado; e
A relação “estudante-assistente de educação” será separada e distinta do relacionamento “professor-resto de classe” – em outras palavras, é criada uma micro-segregação na aula de aula que acarreta na desconexão social dos colegas.
Uma reflexão útil é perguntar “como seria se um estudante sem deficiência fosse escolhido para receber a maior parte da sua instrução acadêmica de um assistente de educação em vez do professor da turma”?
2. CUIDADO COM O ASSISTENTE DE EDUCAÇÃO “GRUDADO” BEM-INTENCIONADO
Uma extensa pesquisa internacional mostrou que um auxiliar de educação estreitamente ligado a um estudante prejudica o desenvolvimento social e acadêmico efetivo do aluno e envia a mensagem de exclusão de que o aluno pertence ao assistente de educação, e não à classe.
Um assistente de educação “grudado” pode inibir o desenvolvimento da relação professor-aluno, bem como as relações sociais com os pares – tanto da perspectiva de sufocar as oportunidades interativas como criando a impressão de que o aluno ainda precisa ser “mimado”. Com o tempo, um assistente de educação excessivamente protetor, mas atencioso e bem-intencionado, pode, como numa profecia auto-realizável, promover no aluno uma dependência desnecessária da assistência de adultos – “é o chamado desamparo aprendido”.
Além disso, o comportamento desafiador em alguns alunos pode muito bem ser um protesto contra um assistente de educação que fica “grudado” no estudante.
O assistente de educação deve ser instruído (habilitado) por você para fornecer a seu aluno tanto espaço quanto possível, tão freqüentemente quanto possível, tendo em conta a necessidade de supervisão e assistência ao aluno. Quanto mais espaço ele tiver, maior a probabilidade de:
Uma relação de instrução professor-aluno saudável e robusta;
A interação social e conexão com colegas de classe (estudos mostram que os alunos são muito mais propensos a se envolver com o aluno com deficiência quando um assistente não está com eles); e
O assistente educacional desenvolver uma relação assistiva e interativa com a classe como um todo.
Um assistente de educação individual deve se esforçar para minimizar sua percepção na sala de aula e no pátio quando estiver “dedicado” a um determinado aluno.
3. PLANEJE A REDUÇÃO DA DEPENDÊNCIA DO ESTUDANTE NO ASSISTENTE DA EDUCAÇÃO
Mesmo com os alunos que necessitam de apoio significativo, o objetivo para o seu aluno deve ser diminuir progressivamente a dependência de apoio individualizado do assistente de educação. Inicialmente, isso pode ser feito através da substituição pelo apoio de colegas de sala (assistência de outro aluno na classe) que beneficia os alunos e promove a conexão social entre pares. Ao longo do tempo, seu objetivo deve passar a incluir a construção de “tempo de aprendizagem independente” (mesmo que a partir de alguns segundos ou minutos em cada lição). Muitos assistentes de educação sentem que seu papel principal é fornecer apoio de ensino contínuo e, consequentemente, precisam ser encorajados pelo professor para ir deixando o aluno cada vez mais independente e envolvido com seus pares.
4. INSTRUA EXPLICITAMENTE O ASSISTENTE DA EDUCAÇÃO A FACILITAR OS OBJETIVOS SOCIAIS E AS METAS ACADÊMICAS
Para todos os alunos, incluindo os alunos com deficiência, o desenvolvimento de relações sociais significativas é fundamental para sua auto-confiança e senso de pertencimento – o que ajudará na sua futura ligação social nos locais de trabalho, na comunidade e na vida em geral – e, finalmente, da vida.
Você deve instruir o assistente de educação para facilitar, quando necessário, a comunicação e interação social do aluno com os colegas e monitorar ativamente a qualidade dessa interação. Os alunos com deficiência são suscetíveis a se tornarem “mascotes de classe” – através de “amizades” abertamente calorosas, mas superficiais, com seus pares. Um assistente de educação que seja capaz de ajudar a iniciar e aprofundar o engajamento de pares e a compreensão dos colegas é inestimável. Manter a conexão saudável e significativa dos colegas ao longo da experiência de escolaridade é fundamental, tanto para os resultados acadêmicos como para os de inclusão social.
5. NÃO DELEGUE A COMUNICAÇÃO COM OS PAIS AO ASSISTENTE DA EDUCAÇÃO
Uma relação saudável e colaborativa entre o professor da turma e os pais do aluno é um componente chave para o sucesso da inclusão de um aluno com deficiência em uma sala de aula geral. A relação professor-mãe-pai é geralmente mais delicada do que a maioria, dado que os pais têm maior preocupação com o progresso e a experiência de uma criança mais vulnerável, enquanto o professor é mais sensível à sua capacidade de satisfazer as expectativas dos pais. Nesse contexto, confiar as comunicações com os pais ao assistente de educação:
– Acrescenta uma camada extra de diálogo e aumenta o risco de má comunicação;
– Inibe a oportunidade de desenvolver uma relação colaborativa entre pais e professores através do contato direto regular; e
– Envia a mensagem aos pais de que a educação do aluno está sendo efetivamente confiada pela escola ao assistente de educação, e não ao professor da turma.
Existe uma tendência natural do assistente de educação de querer fazer o contato principal na comunicação com os pais, uma vez que cabe a ele prestar apoio ao aluno com deficiência. No entanto, da mesma forma que cada aluno deve ver o professor de classe como seu instrutor primário, cada pai deve igualmente ver o professor de classe como principal como responsável pela educação do seu filho.
6. PLANEJE FORMALMENTE A ATUAÇÃO DOS ASSISTENTES DA EDUCAÇÃO
O professor é na realidade, o gerente do assistente de educação na sala de aula. Deixar o assistente de educação se auto-gerir significaria renunciar a esse papel gerencial, de modo que os professores têm a responsabilidade de formular regularmente planos escritos sobre como um assistente de educação será usado em relação ao aluno com deficiência e a classe em geral. Este planejamento lhe permitirá, como o professor, identificar novos objetivos e planejar a sua realização, enquanto avalia o progresso do aluno e do assistente de educação.
A verificação da eficácia do planejamento e o desempenho do assistente de educação deve medir o nível de independência e conexão social do aluno com deficiência. Isso geralmente inclui a gradual diminuição do envolvimento direto do assistente educacional ao longo do tempo com o aluno com deficiência, ao mesmo tempo que o aluno se torna mais envolvido com você como o professor nos processos de aprendizagem de classe global.
7. ASSEGURE QUE O ASSISTENTE DA EDUCAÇÃO NÃO SE TORNE O PRINCIPAL EDUCADOR
Às vezes, um assistente de educação pode desenvolver um forte relacionamento com um aluno com deficiência de modo que o assistente seja visto como o “especialista” e cada vez mais se dependa mais dele para tomar decisões sobre a educação do aluno. Com o tempo, tal relacionamento constrói a dependência no aluno e da escola em geral, compromentendo o desenvolvimento da independência e das relações sociais. Como professor de classe, você precisa estar ciente deste perigo, quando isso ocorrer, deve recomendar mudar o assistente de educação, logo que possível.
8. VEJA A “INSTRUÇÃO” COMO “EMPODERAMENTO”
Embora seja normal falar de professores “instruindo” os assistentes de educação sobre o que é exigido deles, no caso de muitos assistentes de educação que apóiam alunos com deficiência, pode ser mais útil ver as instruções como “empoderadoramento” dos assistentes para desempenhar o seu papel de uma forma diferente do muitas vezes assumido e limitado modelo de assistente de ensino que põe a “mão na massa”. Em particular, muitos assistentes de educação devem ser empoderados para ver:
– Que seus papéis sejam, em particular, facilitar e maximizar a conexão social significativa com os pares; e
– Que reduzir a necessidade de seu apoio ao longo do tempo e recuar para o segundo plano é, de fato, o objetivo desejado.
Medidas para estruturar adequadamente o papel do assistente de educação devem ser tomadas o mais rapidamente possível – estabelecendo o quanto antes as relações apropriadas entre o assistente de educação e o aluno com deficiência, o professor, a sala de aula e os pais do aluno.
Essas “dicas” são mais algumas das “etapas” para se alcançar uma sala de aula inclusiva. Elas prentendem destacar o papel delicado mas inestimável do assistente de educação inclusiva – tão crítico para maximizar os benefícios do ensino.
Dicas práticas para professores 1 – Criando uma sala de aula inclusiva
http://www.movimentodown.org.br/2016/01/criando-uma-sala-de-aula-inclusiva/
Dicas práticas para professores 2 – Apoiando a conexão entre alunos na sala de aula inclusiva