Porque Maslow não pensou em uma pirâmide de necessidades especiais?

vários jovens com síndrome de down sentados em um sofa.

Por Francesca Fedeli

Tradução Vivi Reis

Abramo Maslow deveria saber disso, afinal é o primeiro dos sete filhos de uma família de imigrantes judeus de origem russa, onde quem nasce com uma desvantagem sofre para diminuir as distâncias.

Mas não: na base da teoria da hierarquia das necessidades humanas, que atende pelo nome do citado psicológo americano, há o pressuposto de que o indivíduo deve ser considerado como um todo nas suas necessidades, cada indivíduo é único, mas as necessidades são as mesmas para todos, se você tem pele clara ou escura, se você tem dois braços ou um braço e meio, a partir das necessidades mais básicas, até aquelas superiores como as necessidades espirituais.

piramide de maslow.

 

Nasce, também, uma campanha publicitária com as mesmas premissas, desenvolvida por Luca Pannese e Luca Lorenzini, diretores executivos de criação da agência Publicis de New York. Os dois estão juntos desde 2000 quando começaram a trabalhar juntos em uma pequena agência digital em Roma. Alguns anos mais tarde casaram-se em Milão, e ali permaneceram até 2015, quando tiveram a grande oportunidade de mudar para os EUA, e desde 2012 colaboram com CoorDown com o objetivo de criar campanhas de impacto e chamar a atenção nas questões importantes à comunidade de pessoas com síndrome de Down.

A campanha publicitária “Not Special Needs” nasceu de um eufemismo muito usado no mundo anglo-saxão para indicar pessoas com deficiência: necessidades especiais.

Este termo, que inicialmente pode parecer correto, é realmente prejudicial, porque ele não faz nada além de excluir as pessoas com deficiência, segregando-as das demais. A intenção da campanha é demonstrar que as pessoas com deficiência não têm nenhuma necessidade especial: elas precisam estudar, trabalhar, ter oportunidades e serem amadas. Assim como todos nós.

‘Nós quisemos provocar uma conversa sobre um assunto importante. A linguagem muitas vezes reflete a nossa maneira de ver o mundo: a linguagem mais inclusiva é o primeiro passo para a esperança por um mundo mais inclusivo ». Ter necessidade de comer ovos de dinossauro, vestir uma armadura, ser massageado por um gato, ser acordado por um ator famoso: estes exemplos citados no anúncio não têm nada a ver com uma vida normal, uma vida em que para crescer adequadamente, os jovens com deficiência precisam ser incluídos em uma boa formação educacional e profissional. Assim como todos os seres humanos, olha só!’. Esta “aura de mistério” tem origem na falta de consciência sobre a diversidade, mas a realidade hoje é outra.

‘O vídeo foi compartilhado mais de 600.000 vezes na web e já acumulou mais de 30 milhões de visualizações. Muitos influenciadores e blogueiros, ativistas no mundo da deficiência, se comprometeram a alterar a sua linguagem e não usar o termo “necessidades especiais”. Um blog italiano chamado “necessidades especiais” também decidiu mudar o nome para “necessidades não especiais”. “(https://notspecialneeds.blog/). ‘ Não é a primeira vez que a dupla criativa faz uma campanha em apoio à associação para as pessoas com síndrome de Down: ‘Desde a nossa primeira campanha que tínhamos uma missão: lutar por uma maior inclusão de pessoas com síndrome de Down na sociedade. A cada ano usamos um meio e um tom diferente, mas o objetivo não muda. O caminho ainda é longo, mas nós sentimos que algo está acontecendo. ”

No entanto, a linguagem da publicidade em relação à deficiência está cheia de super-heróis em cadeiras de rodas e mantos com poderes especiais. O que fez a diferença neste caso pode ter sido a proximidade direta com quem vive a deficiência em primeira pessoa, comenta Martina Fuga, a mãe de Emma e Membro do Conselho de CoorDown Itália no portal da campanha. Ou a presença do embaixador John C. McGinley, ator de  Scrubs, que não foi escolhido ao acaso: é pai de um menino com síndrome de Down. ‘Como todos aqueles que nunca tiveram contato direto com as pessoas com síndrome de Down, tivemos muitos preconceitos – diz Luca Pannese e Luca Lorenzini. Acima de tudo, existe uma tendência a generalizar. E ao invés disso, descobrimos que cada uma dessas pessoas é única, assim como nós. Algumas pessoas são introvertidas, algumas engraçadas, outras são mais quietas, há aquelas que gostam de cantar, há aquelas que amam nadar. Para nós, cada ano tem sido uma profunda e inesquecível experiência. ” Graças a Abramo Maslow, nem sequer sentimos a necessidade de uma hierarquia de necessidades ‘especiais’; nós todos apenas precisamos satisfazer nossas necessidades humanas até o ápice da pirâmide, bem ali onde falamos sobre aceitação e ausência de preconceito.

Veja o filme “Not Special Needs

Fonte: http://www.alleyoop.ilsole24ore.com/2017/08/01/perche-maslow-non-ha-pensato-a-una-piramide-dei-bisogni-speciali/